O que significa pyt med det e como surgiu
Na Dinamarca, o termo pyt ganhou destaque ao ser eleito a palavra favorita do país em 2018, em um concurso organizado pela Associação das Bibliotecas Dinamarquesas. Ao contrário de hygge, que remete ao conforto aconchegante, pyt transmite um espírito de desprendimento: "não importa", "esqueça" ou "não se preocupe". Quando aparece na frase pyt med det, a ideia ganha um tom de resiliência, sugerindo que, diante de situações fora de nosso controle, vale mais a pena aceitar e seguir em frente.
Meik Wiking, filósofo e autor bestseller do New York Times sobre bem‑estar, repete a frase diariamente. Para ele, a prática consiste em questionar se o problema que nos incomoda tem real peso sobre nossa qualidade de vida. Se a resposta for negativa, basta dizer pyt med det e liberar a energia mental para questões mais relevantes.
Essa filosofia tem sido incorporada em escolas e até em casas das famílias dinamarquesas, onde alguns criaram botões físicos de "pyt": ao apertá‑los, a pessoa se lembra de refletir sobre a importância do incômodo dentro de três meses. O gesto simples reforça o hábito de deixar de lado pequenas irritações e concentrar‑se no que realmente importa.

Desafios ocultos à felicidade
Apesar da imagem de um país idílico, a realidade dinamarquesa apresenta nuances que poucos notam. Um relatório de 2018 do Conselho Nórdico de Ministros e do Instituto de Pesquisa de Felicidade apontou que 12,3% da população dos países nórdicos relata dificuldades psicológicas significativas. Entre os jovens, esse número sobe para 13,5%.
Michael Birkjaer, co‑autor do estudo, descreveu a situação como uma "epidemia de problemas mentais e solidão" que afeta particularmente a geração mais nova. Pressões acadêmicas, insegurança no mercado de trabalho e a constante comparação nas redes sociais são citadas como fatores que exacerbam o estresse, mesmo em um ambiente que prega o desapego.
Além das estatísticas, especialistas em saúde mental apontam que o conceito de pyt med det pode, em alguns casos, ser interpretado como uma forma de minimizar emoções legítimas. Quando a filosofia é aplicada de maneira rígida, jovens podem sentir que não têm permissão para expressar tristeza ou ansiedade, pois o “não importa” seria a resposta esperada.
Para ilustrar, Ana, uma estudante universitária de Copenhague, relata que ao compartilhar suas dificuldades com ansiedade, frequentemente ouviu conselhos do tipo "pyt med det". Embora bem intencionados, esses comentários a fizeram sentir que sua angústia era insignificante, levando a um maior isolamento.
Por isso, organizações como a Mental Health Denmark têm trabalhado para equilibrar a mensagem cultural com apoio profissional. Elas promovem programas que convidam os jovens a reconhecer quando um problema vai além de um simples incômodo e requer intervenção psicológica.
Outra iniciativa curiosa vem de escolas de Aarhus, onde professores inserem momentos de reflexão ao iniciar as aulas: os alunos são convidados a escrever rapidamente em um papel aquilo que os preocupa e, em seguida, avaliar se realmente merece atenção imediata. Essa prática visa transformar o “pyt” em ferramenta de autoconhecimento, não em modo de negação.
É importante notar que, apesar das dificuldades, o conceito ainda traz benefícios tangíveis. Muitos dinamarqueses apontam que a capacidade de aceitar pequenos contratempos reduz o nível de estresse diário e favorece um clima de colaboração no ambiente de trabalho.
Em resumo, pyt med det funciona como um escudo contra a ansiedade de situações triviais, mas não substitui políticas públicas de saúde mental robustas. O futuro da felicidade na Dinamarca depende de combinar essa atitude cultural com investimentos em serviços de apoio psicossocial, especialmente para a população jovem que enfrenta desafios cada vez mais complexos.