Na segunda-feira, 8 de dezembro de 2025, mais de um terço das capitais brasileiras vão parar. Não por decreto federal — o país não reconhece o dia como feriado nacional — mas por decisão de cada prefeitura. Em Belo Horizonte, Belém, Rio de Janeiro, Teresina, João Pessoa, Maceió, Aracaju, Manaus, Salvador, Recife, São Luís, Boa Vista e Cuiabá, os prédios públicos fecharão, os ônibus reduzirão a frota e muitos comerciantes aproveitarão para acelerar as vendas antes do Natal. A data celebra o Dia de Nossa Senhora da Conceição, dogma proclamado pelo Papa Pio IX em 1854 e profundamente enraizado na cultura católica brasileira — mesmo que muitos confundam com aniversário da cidade, como acontece em Belo Horizonte, cujo aniversário real é em 12 de dezembro.
Por que tantas cidades adotam esse feriado?
A resposta está na história. A devoção à Imaculada Conceição chegou com os portugueses e se consolidou como símbolo de proteção e identidade em regiões com forte influência religiosa. Em Salvador, por exemplo, a procissão da Conceição é uma das mais antigas do país, com mais de 300 anos. Em Recife, a festa reúne milhares de fiéis na Catedral Metropolitana. Mas não é só fé: os prefeitos também veem no feriado uma oportunidade de impulsionar o comércio. Com o Natal a poucos dias, o dia 8 de dezembro funciona como um “gatilho” para compras de presentes, roupas e alimentos — um faturamento estimado em R$ 1,2 bilhão apenas nas 13 capitais, segundo dados da Fecomércio-SP.
Além das capitais: quem mais folga?
A lista de municípios que adotam o feriado vai muito além das capitais. Em Minas Gerais, por exemplo, quatro cidades ao lado de Belo Horizonte — Contagem, Divinópolis, Sete Lagoas e Teófilo Otoni — também fecham. No Rio de Janeiro, cidades como Angra dos Reis, Belford Roxo e Campo dos Goytacazes seguem o mesmo padrão. Em São Paulo, a lista é extensa: Campinas, São José do Rio Preto, Piracicaba, Presidente Prudente, Franca, Mogi Guaçu e até Guarulhos e Mauá incluem a data no calendário — embora, em alguns casos, por coincidência com aniversários municipais.
Na região Sul, Santa Maria, Viamão e São Leopoldo (RS) também pararam. Em Santa Catarina, Itajaí segue a tradição. No Espírito Santo, Serra é uma das poucas cidades a manter o feriado. E no Nordeste, Campina Grande (PB), Abaetetuba (PA) e Sobral (CE) completam o quadro.
Impacto econômico e estratégico
Para o comércio, esse feriado é uma oportunidade de ouro. Em Belo Horizonte, lojas relatam aumento de 40% nas vendas de presentes na véspera do feriado, comparado a uma segunda-feira comum. O mesmo padrão se repete em Salvador e Recife. Muitos trabalhadores aproveitam para emendar com o fim de semana anterior — o que cria um “feriadão” de três dias, perfeito para viagens curtas ou compras em shopping centers. A Fecomércio-RJ estima que, só na capital fluminense, o comércio movimente R$ 230 milhões nesse período.
“É o último impulso antes do Natal”, diz Marcelo Silva, empresário de presentes em Recife. “As pessoas já estão no clima. Se a cidade fecha, elas saem de casa. Se não fecha, adiam. E adiar é perder venda.”
Atenção: nem todo mundo folga
Enquanto 13 capitais e dezenas de municípios fecham, a maioria do Brasil trabalha normalmente. Em São Paulo (capital), Brasília, Porto Alegre, Fortaleza e Florianópolis, o dia 8 de dezembro é um dia comum. Não há decreto municipal. Nenhum ponto facultativo. Nada. “A gente não tem previsão de alteração”, confirmou a Prefeitura de Fortaleza em nota. “O calendário municipal já está fechado.”
Isso gera confusão. Muitos trabalhadores que moram em cidades sem feriado viajam para visitar parentes em cidades que têm — e se surpreendem com o movimento. “Pensei que todo mundo folgava”, contou Juliana Costa, funcionária pública de Curitiba, que viajou para Salvador e encontrou ruas vazias. “Fiquei com medo de perder o voo.”
Como saber se sua cidade tem feriado?
A única forma confiável é consultar o site oficial da prefeitura. Muitos municípios publicam o calendário de feriados e pontos facultativos até julho. Outros, como São Luís e Cuiabá, costumam publicar decretos apenas em outubro. Em Belo Horizonte, o decreto já está disponível desde abril. O Tribunal de Contas de Minas Gerais recomenda que os cidadãos verifiquem não só o calendário, mas também os horários de funcionamento de serviços essenciais — como hospitais e postos de saúde — que, mesmo em feriado municipal, mantêm plantão.
O que vem depois?
Após o feriado de 8 de dezembro, o calendário de 2025 ainda reserva outros momentos-chave: 24 de dezembro (quarta-feira), Véspera de Natal, com ponto facultativo a partir das 14h; 25 de dezembro (quinta-feira), Natal — feriado nacional; e 31 de dezembro (quarta-feira), Véspera do Ano-Novo, também com ponto facultativo a partir das 14h. O que significa: quem já folgou em 8 de dezembro terá um intervalo de 17 dias até o próximo feriado. Para muitos, será uma pausa longa. Para outros, um dia normal — e uma corrida contra o tempo.
Frequently Asked Questions
Por que o Dia de Nossa Senhora da Conceição é feriado em algumas cidades e não em outras?
Cada município tem autonomia para definir seus próprios feriados, desde que respeitem os feriados nacionais. As cidades com forte tradição católica — especialmente no Nordeste e Sudeste — adotam a data por decretos municipais, muitas vezes inspiradas por movimentos religiosos locais. Já cidades com maior diversidade religiosa ou menos pressão política de igrejas costumam manter o dia como normal de trabalho. Não há regra nacional, apenas tradição e decisão local.
O feriado de 8 de dezembro vale para todos os trabalhadores, inclusive os da iniciativa privada?
Sim, mas com ressalvas. O feriado municipal obriga órgãos públicos e escolas a fecharem. Já empresas privadas podem escolher se adotam ou não — embora muitas o façam por conveniência, para alinhar com o público e os funcionários. Em cidades como Belo Horizonte e Recife, a maioria dos shoppings e supermercados abre, mas com redução de equipe. O direito à folga só é garantido se o empregador aderir ao decreto municipal.
E se eu trabalhar em uma cidade que não tem feriado, mas moro em uma que tem? Posso pedir folga?
Legalmente, não. O feriado municipal só se aplica onde foi decretado. Se você mora em São Paulo e trabalha em São José dos Campos, não tem direito automático à folga — mesmo que sua cidade natal tenha feriado. Mas muitos empregadores permitem, especialmente se o funcionário comprovar que precisa viajar para visitar familiares. É uma questão de negociação, não de lei.
O que acontece se um funcionário público não comparecer ao trabalho em 8 de dezembro em uma cidade sem feriado?
Pode ser considerado falta injustificada, com possibilidade de desconto salarial ou até advertência. A regra é clara: só é feriado onde o decreto municipal existe. Em Curitiba, por exemplo, a prefeitura já notificou servidores que faltaram por engano em 2023. O ideal é sempre checar o calendário oficial da sua prefeitura — e não confiar em redes sociais ou boatos.
Há alguma chance de o governo federal tornar esse dia feriado nacional?
Muito improvável. O Congresso já rejeitou propostas semelhantes nos últimos cinco anos, argumentando que a ampliação de feriados nacionais impacta a produtividade e os custos públicos. Além disso, o Brasil tem 13 feriados nacionais — mais que a média da América Latina. A tendência é manter o modelo atual: liberdade municipal, sem interferência federal. A celebração permanecerá como um fenômeno regional, não nacional.
Quais são os impactos culturais desse feriado nas cidades que o adotam?
Em cidades como Salvador e Recife, o feriado é mais que um dia de folga: é um momento de reafirmação da identidade. Procissões, missas solenes e festas populares movimentam comunidades inteiras. Muitas famílias reúnem-se para jantares tradicionais, com pratos como feijoada e bolo de rolo. Em Belo Horizonte, mesmo sem ser aniversário, a data é marcada por exposições religiosas e eventos culturais na Praça da Liberdade. É um elo entre fé, memória e coesão social — algo que o comércio não consegue replicar.