Quando Maurício Garcez chega ao Paysandu Sport Club em junho de 2025, a expectativa é que ele seja a faísca que virá a mudar a trajetória do time na Série B do Campeonato Brasileiro 2025. O que ninguém previa, porém, foi a cláusula que impede o atacante de jogar contra o clube que o cedeu — Avaí Futebol Clube — a menos que o Paysandu desembolse um salário‑multa de R$ 1.000.000,00. A soma dos números faz o coração de quem acompanha a luta contra o rebaixamento bater mais rápido.
Cláusula de multa: o que está em jogo?
O contrato de empréstimo, assinado em 2 de julho, deixa bem claro que o pagamento da multa só será exigido nos dois confrontos diretos previstos:
- 15ª rodada – 5 de julho de 2025, 19h30, Estádio da Ressacada, Florianópolis (SC).
- 34ª rodada – 25 de outubro de 2025, 18h30, Estádio da Curuzu, Belém (PA).
Para o Paysandu, que já lutava para equilibrar a conta no fim de mês, a quantia equivale a quase o salário anual de dois jogadores de ponta. A diretoria admitiu, em nota divulgada em 21 de outubro, que o valor é "financeiramente inviável" no momento crucial da reta final da competição.
Os dois duelos que poderiam mudar tudo
No primeiro duelo, marcado para o início de julho, o Avaí liderava o G‑4 com 23 pontos, recém‑consolidado após vitória fora de casa contra o Criciúma. Já o Paysandu, depois de uma arrancada de três vitórias, havia subido para 13 pontos, saindo da zona de lanterna. A presença de Garcez teria adicionado um volume de ataque que poderia ter ampliado a vantagem de pontos.
O segundo confronto, porém, se tornou uma questão de sobrevivência. Em 25 de outubro, o Paysandu jogava com 27 pontos, ainda dez atrás do Athletic Club, primeiro time fora da zona de queda. Um empate diante do Avaí garantiria, pelo menos, um ponto vital. O que acabou acontecendo? O Leão da Ilha entrou em campo sem o principal centroavante do rival. A ausência de Garcez foi sentida imediatamente no bloco ofensivo do Bicolor.
Posição na tabela e as consequências
Até a 15ª rodada, o Paysandu subiu de 20º para 16º lugar, graças ao trio vitória‑empate‑vitória. Porém, a falta de gols decisivos nos dois jogos contra o Avaí fez a equipe perder oportunidades que poderiam ter consolidado pontos para escapar da zona de perigo.
Com a multa inexequível, o técnico Claudinei Oliveira viu seu planejamento tático desmoronar. Em entrevista ao rádio local, ele comentou: "Sem o Garcez, precisamos reinventar o ataque. Não é só questão de número, é questão de criatividade que ele traz".
A diretoria, por sua vez, buscou alternativas financeiras, incluindo a liberação de jogadores com salários mais altos e a negociação de patrocínios menores para tentar aliviar a pressão. A decisão de não pagar a multa tem um preço: piorar a margem de pontos e, possivelmente, colocar o clube na decisão de descenso já na última rodada.
Reação da diretoria e da torcida
Em comunicado oficial de 21 de outubro, o presidente do Paysandu, Leonardo Doria, explicou que o clube "não dispõe de recursos para arcar com a multa sem comprometer a operação de base". A diretoria ainda prometeu que, caso o time permaneça na Série B, a negociação de uma nova cláusula será reavaliada.
A torcida, conhecida pelo grito “Papão da Curuzu”, reagiu nas redes sociais com mensagens de apoio ao clube, mas também com críticas ao planejamento financeiro que, segundo eles, "deixou o time vulnerável a cláusulas abusivas". Em duas assembleias de torcida realizadas em novembro, o assunto foi o ponto alto da pauta.
O que o futuro reserva?
Com a temporada ainda em curso, o Paysandu tem duas opções principais: encontrar um substituto que preencha o vazio deixado por Garcez ou aceitar o risco de lutar com um ataque menos letal e tentar garantir a permanência através de um esquema defensivo mais rígido. O Avaí, por sua vez, tem a vantagem de saber que o rival está enfraquecido, o que pode influenciar sua estratégia nos últimos jogos.
Especialistas em finanças esportivas apontam que a situação do Paysandu pode servir de alerta para outros clubes da Série B, que costumam firmar empréstimos com cláusulas de pagamento excessivo em caso de confrontos diretos. "É preciso ler o contrato com atenção, sobretudo quando o clube tem orçamento apertado", afirma o analista de economia esportiva Rafael Silva da Universidade Federal do Pará.
Principais fatos
- Cláusula de multa: R$ 1 milhão para que o Paysandu possa registrar Maurício Garcez contra o Avaí.
- Confrontos afetados: 5 de julho (Ressacada) e 25 de outubro (Curuzu) de 2025.
- Pontuação antes do primeiro duelo: Paysandu 13 pontos, Avaí 23 pontos.
- Pontuação antes do segundo duelo: Paysandu 27 pontos, 10 pontos atrás do primeiro fora da zona de rebaixamento.
- Desempenho de Garcez até 21 de outubro: 21 jogos, 6 gols, 4 assistências.
Perguntas Frequentes
Como a multa de R$ 1 milhão afeta as finanças do Paysandu?
O valor corresponde a quase 30% do orçamento anual do clube. Sem recursos de patrocínio extra ou venda de ativos, pagar a multa comprometeria salários, manutenção do estádio e a própria operação da base, aumentando o risco de inadimplência.
Quais são as consequências táticas da ausência de Garcez nos confrontos?
Sem o atacante, Claudinei Oliveira perde o pivô ofensivo que cria oportunidades de finalização. O time tem que recuar para um esquema de contra‑ataque, o que reduz a posse de bola e diminui as chances de marcar contra clubes organizados como o Avaí.
O que a diretoria do Paysandu pretende fazer para contornar a situação?
A diretoria está negociando a contratação de um atacante de menor custo e buscando reforços em empréstimos com cláusulas mais flexíveis. Também está apertando a gestão de despesas e buscando novos patrocinadores locais.
Como a situação pode influenciar outros clubes da Série B?
A experiência do Paysandu serve de alerta para que clubes menores revisem contratos de empréstimo, evitando cláusulas de multa que se ativam em jogos diretos, o que pode ser excessivamente punitivo para finanças apertadas.
Qual é a expectativa de especialistas sobre a permanência do Paysandu na Série B?
Analistas apontam que, sem a repercussão de Garcez, o Paysandu precisará depender de resultados defensivos e de possíveis erros dos adversários. A margem é estreita, mas ainda há espaço para milagres nas últimas cinco rodadas.
