Investigação preliminar aponta erro humano no desastre do voo Jeju Air 2216
O maior desastre aéreo da Coreia do Sul em décadas revelou uma falha grave nos procedimentos de cabine. Segundo relatório preliminar apresentado em janeiro de 2025, o acidente do voo Jeju Air 2216, que caiu em Muan com 179 mortos, teria sido provocado pelo desligamento equivocado do motor menos danificado pelos próprios pilotos, após a aeronave sofrer um impacto com aves pouco antes do pouso.
O jato Boeing 737-800 enfrentou problemas durante uma tentativa de pouso de emergência em 29 de dezembro de 2024, quando um bando de aves atingiu ambos os motores. Investigadores do ARAIB (Comitê de Investigação de Acidentes de Aviação e Ferrovia) apontaram, com base nos dados das caixas-pretas e nos controles da cabine encontrados entre os destroços, que os pilotos acabaram cortando a alimentação do motor esquerdo, que ainda operava, em vez do direito, o mais comprometido.
No momento em que tentavam pousar de barriga, com o trem de pouso recolhido, a decisão reduziu demais o empuxo da aeronave, tornando impossível qualquer manobra para amenizar o impacto. O avião ultrapassou o fim da pista, colidiu com uma barreira de concreto e explodiu em chamas. O cenário no local foi devastador: corpos dos passageiros foram arremessados para longe dos escombros e só a análise de DNA permitiu identificar todos os ocupantes até o início do ano seguinte.

Famílias contestam versão oficial e cobram respostas
Os detalhes revelados no relatório também acirraram ainda mais o conflito entre autoridades e familiares das vítimas. A divulgação de que a tripulação teria tomado uma decisão fatal logo antes do pouso aumentou o clima de desconfiança. Durante a tentativa de coletiva com a imprensa, parentes revoltados interromperam os investigadores do ARAIB e forçaram o cancelamento da apresentação oficial dos resultados preliminares.
Kim Yu-jin, que representa as famílias das vítimas, declarou publicamente não aceitar a explicação sem que todas as provas e áudios do cockpit sejam divulgados de forma transparente. O grupo pressiona para ter acesso a todas as gravações e evidências da cabine, dizendo que é cedo para responsabilizar exclusivamente a conduta dos pilotos.
O acidente do Jeju Air desperta debates duros sobre o treinamento e os protocolos de emergência para tripulantes na aviação comercial sul-coreana. Desde o desastre, reguladores analisam mudanças em procedimentos e revisão de políticas de resposta rápida a situações inesperadas em voo, como colisões com aves, que são ameaças recorrentes principalmente em rotas próximas a zonas úmidas e áreas costeiras do país.
Enquanto a investigação completa deve se estender por meses, a pressão das famílias e a crítica à condução do caso mantêm o episódio no centro das atenções na Coreia do Sul. Até o momento, poucas tragédias aéreas no país haviam causado comoção e debates tão intensos quanto o desastre do voo 2216.