O mundo do entretenimento perdeu uma figura icônica em setembro. Ron Ely, o aclamado ator que deu vida a uma versão refinada de Tarzan nos anos 1960, nos deixou aos 86 anos. Sua morte foi um contraste com a imagem de vigor e energia que ele projetava em sua juventude, marcada por sua performance excepcional em uma das adaptações mais lembradas do rei das selvas. Encarnando um Tarzan sofisticado e ciente dos modos da civilização moderna, Ely conquistou corações e acima de tudo, elevou o status do personagem para além dos habituais grunhidos e interações simplificadas com a natureza.
Ron Ely nasceu no coração do Texas e, desde cedo, mostrou-se um gigante não apenas em estatura, mas em seu talento para atuar. Antes de ser selecionado para viver Tarzan, ele já chamava atenção em séries como 'Father Knows Best', 'How to Marry a Millionaire' e 'The Many Loves of Dobie Gillis'. Cada papel desempenhado era um passo mais próximo do estrelato, uma preparação para seu maior desafio até então. Quando finalmente chegou ao set de 'Tarzan' em 1966, Ely não apenas trouxe frescor ao personagem, mas também realizou as próprias cenas de ação, desafiando os limites do que era fisicamente possível para um ator na televisão na época.
A série 'Tarzan', que teve 57 episódios transmitidos pela NBC, apresentou um herói que decidiu retornar à selva, após aprender as convenções sociais do mundo moderno. Esta versão diferenciava-se bastante das anteriores: Tarzan não tinha Jane, mas mantinha a célebre companhia do chimpanzé Chita. Com a produção milionária, os desafios físicos vieram rapidamente para Ely, que enfrentou desde pequenas escoriações até duas mordidas de leão. Nos bastidores, ele comentou sobre essas dificuldades, reconhecendo que a conta por tanto desgaste físico certamente chegou depois de anos dedicando-se a encenações desafiadoras.
Apesar dos desafios, a série consolidou Ely como um rosto familiar em milhões de lares, embora ele mesmo reconhecesse ter ficado excessivamente vinculado ao personagem. Esta associação intensa obrigou-o a buscar novas oportunidades profissionais na Europa. Ao retornar à terra natal em 1975, Ely deu vida a 'Doc Savage: The Man of Bronze', outro herói icônico. Na televisão, sua presença continuou frequente em uma diversidade de séries até os anos 90.
Além de sua carreira na televisão e no cinema, Ron Ely aventurou-se em outras frentes. Ele apresentou o concurso de Miss América e testou sua habilidade como anfitrião de programas de jogos. Com o passar do tempo, Ely priorizou a família, dedicando-se aos filhos Kirsten, Kaitland e Cameron, e se afastou um pouco da ribalta para escrever romances policias, que foram bem recebidos.
A vida pessoal de Ely enfrentou tragédias, sendo a mais notável a morte de sua esposa, Valerie Lundeen Ely, em um incidente que envolveu seu filho Cameron e a polícia local. A investigação inicial alegava que Cameron posava uma ameaça armada, sendo posteriormente alvejado pelos oficiais. No entanto, a família Ely contestou a versão oficial e lutou por justiça, levantando importantes questões sobre a forma como as situações familiares críticas são geridas pelas forças policiais.
Embora sua imagem como Tarzan o acompanhe para a eternidade, Ely conseguiu superar a armadilha do estereótipo, estabelecendo uma conexão genuína com seus fãs. Em 2012, ele abraçou definitivamente essa ligação, participando do Comic-Con em homenagem aos 100 anos do clássico literário 'Tarzan of the Apes'. Ao fazer isso, reconheceu a importância de seu legado, não apenas na tela, mas também como um elo com gerações de admiradores que viam nele algo mais que um simples personagem.
O falecimento de Ron Ely não representa apenas a perda de um ator talentoso, mas a despedida de uma era da televisão onde os heróis eram forjados com suor, bravura e um coração decidido. Ele deixou uma marca indelével no entretenimento e em seus fãs, assegurando que sua contribuição será lembrada, não apenas como o Tarzan da televisão, mas como um artista dedicado a levar nuances únicas e complexas à vida de seus personagens.